Megaapuração: Prisão de Gilson Machado, suposto plano de fuga de Mauro Cid e os bastidores da tentativa de passaporte português

A Polícia Federal (PF) prendeu o ex-ministro do Turismo Gilson Machado na manhã desta sexta-feira (13), no Recife, por suspeita de tentar obter ilegalmente um passaporte português para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). A ação é parte de uma investigação sobre suposta tentativa de obstrução da Justiça em meio ao processo da trama golpista, em que Cid é réu. A seguir, veja o resumo completo e detalhado do caso.


Prisão de Gilson Machado e suspeita de obstrução

A prisão de Gilson Machado foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A decisão foi baseada em informações da PF que indicam que o ex-ministro teria tentado facilitar a fuga de Mauro Cid do Brasil, interferindo diretamente no andamento das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

De acordo com a PGR, Machado procurou o Consulado de Portugal no Recife, no dia 12 de maio, com o objetivo de obter um passaporte português para Mauro Cid. O documento, no entanto, não chegou a ser emitido. A atuação de Machado seria uma tentativa de impedir a aplicação da lei penal sobre Cid, tendo em vista a iminência do encerramento da fase de instrução da ação penal n.º 2.688/DF.

A representação da PGR ao STF acusa o ex-ministro de tentativa de obstrução de Justiça e favorecimento pessoal, com base em elementos considerados “suficientes” para justificar a prisão.


Contradições e versões da defesa

Apesar das acusações, Gilson Machado nega qualquer tentativa de obtenção de passaporte para Mauro Cid. Em depoimento à PF, o ex-ministro afirmou não ter contato com Cid desde 2022. Ele também declarou que jamais esteve em qualquer consulado ou embaixada, seja no Brasil ou no exterior, e que a única solicitação que fez ao Consulado de Portugal no Recife foi um pedido de renovação de passaporte para o próprio pai.

“Pedi um passaporte para meu pai, por telefone, aqui no consulado português no Recife. No outro dia, ele foi ao consulado, juntamente com meu irmão. E o passaporte dele, se não recebeu, está para receber”, disse Machado ao chegar ao Instituto Médico Legal (IML), onde passou por exame de corpo de delito.

O ex-ministro ainda afirmou que há registros de ligações e mensagens de áudio para comprovar sua versão.


Mauro Cid nega plano de fuga

A defesa de Mauro Cid também nega qualquer plano de evasão do país. Segundo seus advogados, ele cumpre todas as medidas cautelares impostas pelo STF. Em depoimento prestado à PF na sexta-feira (13), Cid afirmou que nunca pediu ajuda a Gilson Machado para conseguir passaporte e reforçou que não tem planos de deixar o Brasil.

Ele, no entanto, admitiu ter solicitado cidadania portuguesa em 11 de janeiro de 2023, poucos dias após os atos golpistas de 8 de janeiro. Segundo a defesa, o pedido de cidadania foi uma iniciativa pessoal, sem relação com qualquer tentativa recente de fuga.

A PF considerou o depoimento de Cid “esclarecedor”, mas não descarta um novo interrogatório se surgirem novos indícios.


Prisão de Cid chegou a ser decretada, mas foi revogada

Paralelamente à prisão de Gilson Machado, Alexandre de Moraes também chegou a decretar a prisão de Mauro Cid. No entanto, a ordem foi revogada logo em seguida, enquanto o ex-ajudante de ordens era conduzido para o Batalhão do Exército, onde cumpriria o mandado. Os motivos exatos da revogação ainda não foram divulgados oficialmente.


Processo segue sob sigilo no STF

O caso segue em sigilo e tramita no Supremo Tribunal Federal sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. A investigação gira em torno da suspeita de que aliados de Jair Bolsonaro estariam tentando interferir ou impedir o andamento das ações penais ligadas ao 8 de janeiro e à tentativa de golpe.

O “Estadão” e o “UOL” tentaram contato com os advogados de Gilson Machado, mas ainda não obtiveram retorno. A reportagem será atualizada quando houver manifestação formal da defesa.


Conclusão

O caso reúne elementos de grande relevância política e jurídica, envolvendo uma possível tentativa de fuga de um dos principais delatores da trama golpista e um ex-ministro do governo Bolsonaro. Enquanto Gilson Machado nega qualquer irregularidade e afirma ter agido apenas em nome do pai, a PGR sustenta que há indícios concretos de obstrução de Justiça. As investigações prosseguem, e novos desdobramentos são esperados nas próximas semanas.